terça-feira, 10 de junho de 2008

Parmênides critica Sócrates








Platão conta, no diálogo Parmênides, que o próprio e seu discípulo Zenão encontraram-se com Sócrates. O filósofo ateniense, para se opor à tese de Parmênides defendida por Zenão, apresenta a sua Teoria das Formas. A teoria é inaceitável para Parmênides porque supõe a unidade e a multiplicidade (ou a contradição, ainda que apenas para o múltiplo). Eis o primeiro argumento do filósofo de Eléia:Se as coisas particulares participam da forma da beleza, ou da semelhança, ou da extensão, elas são ou bonitas, ou semelhantes, ou extensas. Cada coisa particular deve receber ou o todo da forma de que participar, ou uma parte. De um modo ou de outro, a forma se torna múltipla. No primeiro caso, por multiplicação. No segundo, por divisão. Em qualquer dos casos, não será una.A resposta de Sócrates, embora tímida, é ótima e se resume na afirmação de que as formas são paradigmas, não coisas sensíveis, que podem ser divididas ou multiplicadas.Ow, Parmênides, quer medir idéia com esquadro?
O mais interessante no diálogo entre Sócrates e Parmênides é a imagem do jovenzinho promissor, mas ainda ingênuo e incipiente, apresentando problemas para gente grande pensar. Lembrei-me de Cristo conversando com os doutores do templo.
Aristóteles afirmava terem sido os Lacedemônios (os espartanos) os inventores da comédia. A afirmação de Aristóteles me causou estranheza porque conhecemos os espartanos, descendentes dos dórios, como um povo que abolia o cultivo do espírito. Hoje, encontrei em Platão (Protágoras) a afirmação de que os Lacedemônios são grandes filósofos, e que a alma desta filosofia é a brevidade.Ainda bem que é a filosofia da brevidade. Caso contrário, o termo "lacônico" terá de sair do dicionário. Lacônico significa quem fala muito pouco ou quase nada (designava quem é oriundo da Lacônia, planície onde estava Esparta e, por essa razão, significa quem é monossilábico, já que os espartanos eram treinados para expressar-se com o mínimo possível de palavras). Só não sei como é possível filosofar em poucas palavras. Pensando bem, é possível. Os discípulos de Sócrates dialogavam com ele em pouquíssimas palavras:Sim.Exatamente.Bem o dizes, ó Sócrates.Que queres dizer?Absolutamente correto.É verdade.Tens razão, Sócrates.Perfeitamente justo. Só não dá para divergir em poucas palavras. Neste caso não se trata de filosofar, e sim de dizer "não porque não". Ou seja, quando divirjo em poucas palavras, afirmo minha subjetividade, e é só (porque não posso argumentar somente com um "não"). Quando confirmo com poucas palavras, filosofo.Faz sentido. Para os lacedemônios.

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